domingo, 15 de fevereiro de 2015

Julgar-se superior...

site da imagem:http://envolverde.com.br/sociedade/preconceito-sociedade/como-nascem-os-preconceitos/

Li uma matéria do G1 sobre as músicas mais baixadas na iTunes Store do Brasil. As músicas são "Gordinho gostoso" "Parara tibum" e "Hoje", aparentemente são músicas de funk ou algum outro gênero alvo de preconceito pela auto-proclamada "classe intelectual" do país.

Ao ler os comentários me deparei com o óbvio, pessoas julgando que a situação atual do país não é das melhores por causa disso (Oi?? O preço da gasolina tem relação com o gosto musical das pessoas?), mensagens de repúdio e preconceito agressivo em geral pelas pessoas que escutam tais músicas.

E eu pensei: "Deuses, as pessoas realmente adoram odiar e julgar os outros por qualquer motivo que seja". Isso é inaceitável!

Julgar o intelecto de uma pessoa baseado no gosto musical dela é a coisa mais imbecil que se pode fazer, mas ainda assim, as pessoas o fazem e ainda por cima acham que são inteligentes por fazê-lo! Na verdade é o imenso oposto, o idiota é quem julga, não quem escuto o Funk, ou o Pagode, Sertanejo e demais estilos agredidos.

Essa quadro é um problema muito maior do que se pode ver inicialmente. O preconceito tem raízes profundas e com essas ações estamos apenas aumentando-o. E o mais preocupante é que as pessoas se sentem superiores às outras, baseadas e NADA! Baseadas em seu próprio preconceito e discriminação. Ao meu ver, agir assim te torna uma pessoa deplorável, inferior à figura a qual estás a julgar.

Julgar-se melhor que alguém imediatamente te torna pior que aquela pessoa, julgar baseado em preconceito só piora a situação! Aquele clichê de que não devemos fazer distinção entre raças (e é raça sim, não é raça humana, é espécie humana!), orientação sexual e religião não deve nunca perder sua força, e ainda deve-se acrescentar poder econômico, gosto musical, gosto literário e várias outras preferências pessoais à esta afirmação.

A pessoa pode ser fã da saga Crepúsculo, ouvir funk, morar na favela, ser negra, budista e gay, e isso não faz com que eu seja melhor que ela, em nenhum aspecto. Na verdade, a pessoa pode ser alguém imensamente culta, politizada e caridosa. Você nunca vai saber se continuar com essa mente preconceituosa babaca.

E ainda julgando-se superior.... Posso apenas sentir pena dessas pessoas.

sábado, 31 de janeiro de 2015

A falácia do Facebook científico

Imagem via: http://estudandoppassar.blogspot.com.br/2013/06/alguem-se-reconhece-aquele-momento.html

Algo que tem se proliferado de forma intensa nas redes sociais é a criação de posts tratando de "ciência". E isso é muito preocupante. Pois os criadores dos posts, que muitas vezes se valem de títulos para poder espalhar suas crenças, não estão muito preocupados, verdadeiramente, com a proliferação do pensamento crítico e científico, mas apenas se importam com os likes  e compartilhamentos que recebem, querendo apenas aumentar seu ego, seu alcance fora da academia (não a de ginástica; a área acadêmica).

O que mais me entristece é o mal uso da informação. Vejo publicações que usam uma, e só uma referência para espalhar uma notícia que serve para corroborar com a crença do escritor, para arrebanhar seguidores, pessoas que sabidamente não irão atrás de mais informações, que não vivenciam a academia (não a de ginástica) diariamente e não sabem analisar uma notícia de forma crítica.

Um professor que se vale da ignorância alheia para se promover não é um homem que mereça respeito. Valer-se de seu título para embasar sua crença é imperdoável. O pesquisador deve ser imparcial, deve estar aberto para analisar as evidências e aceitá-las mesmo que elas apontem para uma direção que ele não gosta.

Um texto científico no Facebook é IMPOSSÍVEL, pois um texto de real valor contém dezenas, as vezes centenas de referências, confrontam várias hipóteses e nunca, NUNCA afirmam que seus resultados são a verdade absoluta. Buscar a verdade em um único texto é um exercício de má vontade, é a falta de interesse disfarçada de conhecimento.

Não aceite qualquer informação apenas porque alguém com título de doutor ou meste disse. E principalmente, não espalhe a notícia baseada apenas em uma referência, principalmente sem ler o artigo original. Quebre a corrente das meias-verdades e se realmente está querendo aprender algo, procure nos lugares corretos. Grande parte dos papers está disponível de forma gratuita na internet, o Google Acadêmico é uma ferramente de busca fantástica para a procura de artigos. Use bem a internet, não ache que você irá se tornar um especialista apenas lendo o que aparece em sua linha do tempo. Mas se não quiser ir atrás de conhecimento, por favor, pelo menos não espalhe a mentira!


quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Sobre professores de Educação Física; Parte 2.

Continuando sobre a área da Educação Física....

Aparentemente não somos mais professores, somos "personais" agora. Nosso caráter educador sumiu a muito tempo, o que temos que fazer agora é vender. Arrecadar alunos e sermos famosos nas redes sociais.

Quando me falavam "Gustavo, você tem que saber vender sua aula, se não, não conseguirá alunos" eu pensei: "Mas eu não sou vendedor, sou professor, estou aqui para ensinar e não para vender nada".
Aparentemente eu estava, e ainda estou, errado, pois continuo pensando do mesmo modo, mas o resto não. O foco é vender sua aula. Criar treinos mirabolantes e sem sentido para divertir e fidelizar o aluno, a regra é agradar o cliente (antes chamado de aluno).

Eu não vejo nenhum problema em criar aulas diferentes para agradar o aluno, o colega Rafael da FisioX em Bebedouro faz isso muito bem, pois aplica seus conhecimentos para a elaboração do treino, estudo biomecânica a fundo para poder criar um treino que faça sentido. O meu problema é com a criação de treinos mirabolantes sem o menor embasamento, uma sessão de exercícios totalmente aleatórios, apenas para não repetir o treino de ontem e não aborrecer seu "cliente".

A diferença entre "aluno" e "cliente" é o que me incomoda mais. Pois o aluno aprende com seu professor, escuta e realiza as tarefas delegadas, pois, como aluno, crê que seu professor detêm o conhecimento necessário para julgar o que é melhor. O cliente não, o cliente não aprende nada, não escuta nada e só faz o que quer. O professor acaba se tornando apenas um "garçon" de exercícios, abdicando toda sua formação e apenas sendo o cara que coloca o peso, arruma a cabeleira, desmonta o aparelho e faz piadinhas para entreter o "cliente".

Já ouvi que o que as pessoas querem mesmo é serem clientes, ninguém quer ser aluno. Acho isso uma concepção errada de alguém que não tem conteúdo para passar para alunos, tem apenas uma lista de exercícios pré definida que cospe para seus clientes, pois é mais fácil enganar um cliente do que ensinar um aluno.

Imagem: http://www.planetay.com.br/capital-social-parte-5/


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sobre professores de Educação Física; Parte 1.

Atendendo ao pedido de um amigo, irei falar sobre o tema que menos gosto de discutir: a Educação Física, mais especificamente sobre o profissional desta área.
Durante toda a série de textos tentarei fugir ao máximo do padrão revoltado de internet, que apenas critica por criticar, me atentarei a fatos e embasarei meus argumentos. Espero que consiga.

Bem, a primeira coisa que acho que merece ser discutida é a remuneração. Hoje, uma academia grande paga ~10 reais a hora para um professor de musculação. A classe julga isso muito pouco e quer aumento (claro, todo profissional quer aumento), a ponto de haver uma discussão no LinkedIn (adoro discussões de pessoas que acham que vão mudar o mundo sentados no sofá reclamando na internet) sobre um aumento para R$4.500,00 por 30 horas semanais. Ora, isso da ~37,50 reais por hora! Okay, então vamos discutir sobre o mérito.

Esse salário que os profissionais estão pedindo, é um bom salário, muito bom na verdade, inacessível para a imensa maioria dos brasileiros, que sá para a imensa maioria das pessoas com ensino superior. Uma faculdade particular normalmente para em torno disso para um professor com o título de Doutor.

Mas o que eu quero julgar aqui é o merecimento dos professores por esse salário, querer um bom salário é justo, desde que se mereça ele, e eu já adianto aqui que o professor de Educação Física padrão do Brasil, não merece esse pagamento, nem de longe.
Quando digo professor padrão, ninguém se sente atingido, pois todos se acham acima da média, nenhum se acha uma pessoa medíocre (atente para o verdadeiro significado desta palavra), todo mundo se acha merecedor, se acha melhor, muito acima do padrão. Entenda, não a nada de errado em ser o padrão, eu sou um jogador de FIFA padrão, um motorista padrão, dentre outras coisas que faço do mesmo modo que a maioria das pessoas faz. O segredo e não se achar foda em tudo, mas saber seus pontos fortes e fracos.

Bem, o professor de musculação padrão não sabe nem metade do que deveria para sonhar em ganhar um salário desse. Quanto mais raro é o profissional, mais ele ganha, essa é a regra. Quanto menos pessoas conseguirem fazer o que você faz, maior será o seu salário. E fazer o que um profissional de educação física padrão faz atualmente não é, nem um pouco, raro. Qualquer um consegue, inclusive temos pessoas que trabalham com exercício que nunca fizeram faculdade e fazem um trabalho muito melhor do que os professores.

Infelizmente o educador físico quer ser valorizado mas não se dá o valor. Acha que as outras classes devem reconhecê-lo como um profissional importante na área da saúde, mas não se esforça para isso. Não estuda para isso. E quando estuda, não procura revistas científicas (muitas vezes, nem sabem o que é isso), não busca livros renomados, vê vídeos de fisiculturistas no YouTube ou faz cursos sem valor em encontros da área. Isso não é estudar.

O profissional de Educação Física hoje não é valorizado fora do meio acadêmico, pois não merece sê-lo, não tem conhecimento para preencher seu ego. Não leu livros o suficiente para querer seu lugar ao sol ao lado dos profissionais valorizados. A briga que eles tem com os médicos é fruto apenas de inveja pelo salário e pelo prestígio que este último carrega. Mas saiba que mesmo um médico ruim, para se formar, leu muito mais livros do que 99% dos profissionais da nossa área.
Então, antes de exigir mais reconhecimento e maior salário, encha sua carcaça de músculos com conhecimento sobre os saberes de sua área. Antes de querer que os outros te valorizem se deem o devido valor. O gráfico abaixo mostra isso, quem ganha mais ou é professor pesquisador de faculdade pública ou trabalha dentro de hospitais, em ambos os casos, estudaram MUITO pra estarem lá!



*a figura foi feito pela UFMG neste site.


Texto complementar: http://discussaobanal.blogspot.com.br/2014/07/o-despreparo-da-educacao-fisica.html